Introdução
Os Controladores Lógicos Programáveis (CLPs) foram desenvolvidos na década de 1960 para substituir relés eletromecânicos na automação industrial. Eles revolucionaram a oferta ao oferecer maior confiabilidade, flexibilidade na programação e facilidade de manutenção. Entretanto, com o avanço de tecnologias como Internet das Coisas Industriais (IIoT), Computação de Borda (Edge Computing) e Inteligência Artificial (IA), discute-se cada vez mais se os CLPs continuarão desempenhando um papel essencial ou se serão gradualmente substituídos por arquiteturas mais modernas.
Neste artigo, analisaremos os principais desafios e perspectivas do futuro dos CLPs no contexto da Indústria 4.0, abordando sua relevância na automação, o impacto das novas tecnologias, os desafios de substituições e suas possíveis evoluções.
O papel dos CLPs na automação industrial
Os CLPs foram projetados para operar em tempo real, garantindo controle preciso e confiável de processos industriais. Seu hardware robusto é capaz de suportar ambientes hostis, incluindo variações extremas de temperatura, vibrações mecânicas e interferências eletromagnéticas. Diferentemente dos computadores convencionais, os CLPs utilizam um sistema operacional desenvolvido e projetado para execução determinística, o que garante tempos de resposta extremamente baixos.
A arquitetura dos CLPs baseia-se em um ciclo de varredura (scan cycle), no qual o processador lê as entradas, executa o programa de controle e atualiza as saídas em frações de segundo. Essa característica é essencial para aplicações que desativam proteção e sincronismo, como linhas de produção automatizadas, sistemas de transporte e controle de processos químicos. Além disso, os CLPs suportam diversos protocolos de comunicação industrial, como Modbus, Profibus, EtherNet/IP e Profinet, permitindo integração com sistemas de supervisão (SCADA) e gerenciamento de produção (MES).
O impacto do IoT e da Computação de Borda
A ascensão do IoT trouxe consigo uma abordagem mais descentralizada da automação industrial, onde sensores e atuadores conectados geram grandes volumes de dados em tempo real. Com a Computação de Borda, parte do processamento que antes era centralizado nos CLPs pode agora ser distribuído para dispositivos mais próximos das máquinas, diminuindo a latência e melhorando a tomada de decisão.
Os dispositivos de borda são fornecidos com aceleração potente e capacidade de execução de algoritmos avançados, como modelos preditivos e redes neurais. Dessa forma, embora um CLP tradicional execute apenas correções lógicas, um dispositivo de borda pode analisar padrões de falha, prever anomalias e sugerir ajustes para otimização de processos. Isso reduz significativamente o tempo de inatividade das máquinas e melhora a eficiência produtiva.
Outro impacto relevante é a convergência entre TI (Tecnologia da Informação) e TA (Tecnologia da Automação). Os CLPs operam tradicionalmente em redes de automação fechadas, enquanto a IoT permite que dispositivos industriais sejam acessados remotamente e integrem-se às plataformas de nuvem. Essa mudança possibilita um nível de monitoramento e análise de dados que antes não era viável, permitindo estratégias de manutenção preditiva baseadas no aprendizado de máquina.
A Inteligência Artificial e a tomada de decisão avançada
A Inteligência Artificial está cada vez mais presente na automação industrial, permitindo que sistemas aprendam com dados históricos e otimizem processos de forma autônoma. No contexto da automação, o IA pode ser usado para prever falhas, ajustar parâmetros de produção e até mesmo tomar decisões sem intervenção humana.
Ao contrário dos CLPs, que seguem uma lógica fixa programada pelo engenharia de automação, sistemas baseados em IA podem identificar padrões e adaptar-se dinamicamente às variações do processo produtivo. Por exemplo, um sistema de controle de temperatura pode aprender com dados históricos e antecipar variações na temperatura antes que ocorra um desvio fora da faixa operacional aceitável.
Entretanto, a implementação de IA em processos industriais ainda enfrenta desafios. Os modelos de IA bloqueiam um grande volume de dados para treinamento e devem ser validados para garantir sua confiabilidade. Além disso, uma integração com infraestruturas legadas baseadas em CLPs pode ser complexa, exigindo gateways e soluções fornecidas para comunicação entre os diferentes sistemas.
Os desafios da substituição dos CLPs
Embora as novas tecnologias tragam avanços inovadores, substituir completamente os CLPs ainda apresenta desafios práticos e financeiros. Muitas indústrias possuem parques industriais vastos e heterogêneos, com máquinas que dependem de CLPs há décadas. A substituição completa dessas infraestruturas exigia um alto investimento e tempo de parada das operações.
Além disso, os CLPs continuam sendo uma solução mais confiável para controle determinístico. Em processos críticos, como na indústria química e na geração de energia, qualquer falha no sistema pode resultar em prejuízos milionários ou até mesmo riscos à segurança. Os sistemas baseados em distribuição distribuída ainda não oferecem o mesmo nível de confiabilidade que os CLPs garantem.
Outro ponto crucial é a capacitação da mão de obra. Engenheiros e técnicos especializados em CLPs representam uma parte significativa do mercado de automação. A migração para plataformas baseadas em IIoT e IA exigiu uma requalificação massiva desses profissionais, o que pode ser uma entrada para muitas empresas.
O futuro: evolução ou substituição?
Em vez de serem substituídos, a tendência é que os CLPs evoluam para se integrarem melhor às novas tecnologias. Os fabricantes de CLPs já estão incorporando funcionalidades como conectividade com a nuvem, suporte a linguagens de programação avançadas (como Python) e compatibilidade com protocolos modernos de IIoT.
Uma abordagem híbrida pode ser a solução ideal: CLPs continuam sendo utilizados para o controle determinístico de processos críticos, enquanto dispositivos de borda e sistemas baseados em IA assumem funções analíticas e de otimização. Esse modelo aproveita o melhor dos dois mundos, garantindo confiabilidade e flexibilidade ao mesmo tempo.
Além disso, o uso de CLPs virtualizados (soft PLCs) vem crescendo. Em vez de um hardware físico dedicado, o driver pode ser executado em servidores industriais ou até mesmo na nuvem, trazendo maior escalabilidade e integração com arquiteturas modernas.
Conclusão
Os CLPs continuam sendo fundamentais na automação industrial, mas precisam se adaptar às novas exigências da Indústria 4.0. Tecnologias como IIoT, Computação de Borda e IA estão redefinindo o papel desses dispositivos, exigindo que sejam mais conectados, flexíveis e inteligentes.
A tendência não é a substituição total dos CLPs, mas sim sua integração com novas soluções. A evolução desses sistemas permitirá que a indústria aproveite o melhor da automação tradicional e das inovações digitais, garantindo maior eficiência, segurança e competitividade.
3 Comments
Ótimo texto. Qdo pensamos que já sabemos, não sabemos nada.
Realmente sempre presenciamos a evolução tecnologica em todas as áreas, lembro em 2016 quando tínhamos de pagar uma conta de IP dinâmico para permitir o acesso remoto com plataformas móveis na versao IPV4, e solicitar o provedor que desmascarasse o IP fornecido “NATeado” e abrisse portas para permitir esse acesso remoto, há quase dez anos atrás, hoje temos banco de dados em nuvem, além das plataformas novas de comunicação, e na intenção de acompanhar o mercado, vimos o protocolo de comunicação de Sistema supervisório quase que universal para todos CLP, bancos de dados em nuvem, e plataforma móvel que é o OPC UA permitindo a comunicação e interoperabilidade dessa diversidade de comunicação. Mas em todo caso para controlar dispositivos de potência com segurança e de maneira comercial acredito que os CLPS ainda são os dispositivos mais recomendados. gostaria muito de fazer esse seu novo curso sobre indústria 4.0 e conhecer esses novos protocolos de comunicação e linguagem de programação mas por condições financeiras estou acompanhando o mercado através de cursos gratuitos sobre o protocolo OPC UA e arquitetura IIoT, em todo caso ainda apoio a padronização do setor com as instituições normativas IEC 61131-3, IEC 62541, IEC 30141.
Ja fiz outros cursos com a INETEC, parabenizo a iniciativa, muito completa, sou formado desde 2015 tentando acompanhar a tecnologia mas realmente vemos uma diversidade de tecnologia muito grande na automação residencial, comercial e industrial.
Muito bom… Imaginei logo que a conclusão Seria mais ou menos essa: Evolução e não substituição dos CLP, uma espécie de ” Metamorfose Tecnológica”…
Any way, bom artigo. Pude aprender muito